A Serra da Opa

Fica nos limites do concelho de Penamacor com o concelho do Sabugal. O seu cume marca parte do limite entre a Beira Baixa e a Beira Alta, mas não se enganem: a serra da Opa até nem é muito alta e estando em boa forma trepa-se bem pelo próprio pé, sem necessidade de especiais adereços. Um cantil cheio trazido de casa e um cajado de ocasião escolhido já a caminho podem ajudar. No cimo talvez encontre como bónus as ruinas de alguns castros de antanho. De lá do alto poderá disfrutar de belas vistas para o Casteleiro, Moita, S. Estêvão, Vale, Meimoa,Benquerença mas também, espreitando para Norte, a silhueta de Sortelha, a Sera de São Cornélio, a da Gardunha e para Oeste a Estrela e o vale da Cova da Beira, para leste a Malcata e um vislumbre da Serra da Gata, já em Espanha. Vale a pena subir à Serra da Opa, em Sortelha à Serra de São Cornélio,vale sempre a pena subir a uma montanha.

sábado, 23 de janeiro de 2010

A LENDA DO POiO DE SORTELHA

Conta-se que no tempo das guerras contra os Mouros, Sortelha estava submetida a um forte Cerco e em perigo de rendição.

Os géneros já se tinham esgotado. O Alcaide mandou perguntar por reservas e chegou à conclusão de que havia apenas a preciosa água que brotava na Fonte-de-Dentro que tantas vezes tornou Sortelha invencível e uns restos de farinha de centeio, alguns grãos de cevada da ração dos cavalos e no fundo de um pote de azeite, duas Bucheiras.

Com falta de alimentos estava também o acampamento da Moirama, fustigada pelas corujeiras de Janeiro.

Em situação dramática, houve a feliz ideia de juntar todos os restos de grãos de centeio e de cevada e milho moe-los em moinho de mão como se fosse para fazer carolo e com alguns galhitos e portas velhas, conseguiu-se aquecer o forno e fazer uma apetitosa Poia Grande Recheada, um grande Poio.

Embora a force fosse muita e colectiva toda a gente concordou que se mostrasse fartura ao inimigo e se atirasse sobre a tenda do Chefe Mouro, que estava montada mesmo ali por baixo do Castelo, ao sol, abrigada num Barroco.

Procurou-se o mais valentão e de melhor pontaria e depois de se ter feito Algazarra no Castelo, quando os Mouros, espreitavam em posição defensiva, questionando-se o porquê de tanta chamada de atenção, um valentão da nossa terra, capaz de partir de longe com uma pedrada uma perna de cabra aheia que lhe entrasse na horta, reparando onde estava o Emir, atirou-lhe com o apetitoso Poio, ao nariz.

Não lho amachocou porque ele se desviou.

Toda a Moirama queria ver que arma era aquela, que projectil era aquele.

Às Pedras já estavam habituados. Quando viram que era pão e ainda por cima recheado e quentinho, nem olharam a ordens ou a obediências.

Todos procuraram corner um bocado, quai bando de Corvos esfomeados.
A confusão foi tal que o Emir nem provou um bocadinho - só ficou com o cheiro.

E o suculento Poio provocou dissidências e quase uma rebelião pelo que se viu por vozes e gestos pois que se pela Fome não venciam Sortelha, pela força das armas, seria impossível.

O resultado da indisciplina e mal estar entre os Sitiantes foi desmontarem as tendas e abalarem, pelo Ribeiro abaixo, enquanto os Sortelhenses aliviados, foram respeitosamente dar graças a Nossa Senhora das Neves. E as Portas abriram-se e houve Pão.

E da Torre do Facho, avisaram-se os outros castelos vizinhos tais como o de Belmonte, Covilhã e Monsanto que os Mouros tinham abalado, que tivessem cuidado com eles.

Verdade ou mentira, o que é certo é que o ribeiro ficou conhecido por Ribeiro do Poio que desse até ao Casteleiro.

J. Gouveia

A LENDA DO PASTOR DA SERRA DA ESTRELA

Era uma vez um pastor.... que vivia longe... muito longe... numa terra distante, talvez para os lados do Alentejo ou do Sul de Espanha... Não se sabe muito bem, porque esta estória, já vem dos tempos muito antigos, em que o Alentejo não se chamava assim.
Um dia, ou uma vez, que foram muitas, durante muito tempo, enquanto apascentava o gado e trabalhava no amanho dos campos deixou-se apaixonar por uma estrela, que parecia uma estrela das do céu, mas não era. Ele via-a brilhar, ao longe, muito ao longe, nas noites que passava sem dormir, ou quando tinha de passar as noites a vigiar ou cuidar do gado que não escolhe horas para ter as crias. Via-a brilhar como um ponto luminoso muito distante e indistinto, que por vezes lhe aparecia em forma de mulher vestida com um esplendoroso vestido branco com um manto a esvoaçar...
E um dia, apesar das desconfianças e olhares reprovadores dos vizinhos e das pessoas da família, abalou à procura da sua estrela... - Quem sabe? É, talvez mesmo, o destino que me chama?!!!

Correu montes e vales... viajou... perdeu terras e países por onde passou e conheceu muita gente e ia ganhando o seu sustento e... chegou finalmente a uma terra de encantamento... Ali estava, mesmo diante da sua vista, uma montanha vestida de branco, como a estrela brilhante que lhe aparecia por vezes em figura de mulher! Foi o deslumbramento! - Vou conquistar o cimo daqueles montes brancos, que desde há tanto tempo, tanto me fascinam! Avançou. As gentes das terras que bordejavam a serra bem o avisaram e tentaram dissuadir... - Aquilo são os Montes Ermos, os Hermínios, a Terra dos Segredos e Mistérios... Todos os que a tentaram conquistar, partiram e nunca mais voltaram!!!...

Ele ouviu e partiu...



Ao entrar nos ermos onde só havia lendas e fantasmas... descobre... é atacado por um corpulento animal que o desafia, mas logo se reconhecem e passa, afinal, a ser o cão seu companheiro e guia, que assim substituiu o seu cão de pastor que perdera durante a longa viagem que durara tantos anos de procura... Já com o seu Cão da Serra descobre os imensos rebanhos de cabras e ovelhas que povoavam a serra e o aceitam como seu pastor e guarda, para os defender dos lobos da serra e das feras que os dizimavam... Senhor de tanta riqueza, vai caminhando sempre para o alto e e à medida que subia ia dando nomes às coisas e lugares, que encontrava e o iam encantando... - Além, aquelas pedras que se erguem como sentinelas e marcam o lugar da fronteira, onde deixei de ver gente, casa e aldeias, ficam a chamar-se as Portas dos Hermínios... as portas para os que quiserem ir em busca dos mistérios e segredos... Este rio será chamado Zêzere por causa dos azereiros, aquela espécie de salgueiros, que lhe bordam as margens... Esta é a pedra do Urso, que o cão foi atacar e confundiu com a fera... Aqui são as Penhas da Saúde, onde tive de acampar durante os tempos bebendo do leite e comendo dos rebanhos até descobrir o pão de centeio que ali engradece mais, no alto... e foi ali que recobrei as forças e fabriquei os agasalhos que me levariam ao cimo... Mais além ficaram as Arcas do Pão... Além a Argenteira... os Cântaros majestosos donde corre a água pura das montanhas... e a Rua dos Mercadores, a fenda na Montanha por onde hão-de vir os que me procuram, para mercar o leite e os queijos e as manteigas saborosas... Lá mais ao longe a Candeeira de mil luzes e desfiladeiros... e mais ao longe as Penhas Douradas, que brilham como o oiro ao Pôr do Sol ... e o Vale dos Cavalos Rocim... E o Vale das Éguas... e já a caminho do alto aparece o Terroeiro, que se despenha pelo Covão do Ferro... O Covão do Boi e as Quiejeiras, onde os bois e vacas se juntaram aos imensos rebanhos que pascia... E, enfim, o cimo, o alto, cercada pela Penha do Gato, a Penha dos Abutres, a Pedra de Ver o Mar, as Pedras Vermelhas o Malhão da Estrela de cinco pontas, à imagem da Estrela brilhante que, desde há tanto tempo o tinha seduzido lá do alto!!! Esta é, a partir de agora, a minha Serra, a minha Terra, a Serra da Estrela que eu chamo a minha S.Terra.

Quando o rei do mundo ouviu falar de um pastor audaz, que tinha conquistado a Serra dos Montes Ermos, onde nenhum humano se atrevera a entrar, a Montanha dos Segredos e Mistérios, que afinal lhe granjearam a fama de ter grandes riquezas, o rei do mundo enviou seus emissários para lhe exigir vassalagem! Eles foram e em tempo propício encontraram o Pastor. - dizem que vos intitulais o Rei dos Montes Ermos? Deveis vassalagem ao rei do mundo, - disseram. - Este meu Reino não é desse mudo... - retorquiu o pastor. - O rei do mundo dar-vos-á mil riquezas e poderes em troca do teu Reino. - Parti e ficai com o vosso rei e o vosso mundo... e não volteis porque a Terra, a Serra devora os cobiçosos e infames... Eles partiram, contaram ao rei do mundo as respostas do Pastor e furioso mandou os seus melhores generais com numeroso exército dar uma lição àquele Pastor. - Atrevido! Insubmisso! Não sabe que sou eu o rei do mundo?!!! Pois ficará a saber. Não ficou. O Pastor audaz e a Montanha e os seus Segredos e Mistérios vencem os exércitos do rei do mundo, que se perdem e afundam nos desfiladeiros e derrocadas arrepiantes... A partir daí, a Serra povoa-se de pastores, que fogem da tirania do rei do mundo e com ele partilham as suas enormes riquezas, mistérios e segredos... São os audazes antepassados de Viriato e seus suldórios, que derrotaram sucessivamente os numerosos exércitos da orgulhosa Roma e das Gentes que povoam a Serra da Estrela...
Mas outros numerosos exércitos apareceram e venceram... e vencem, agora, os pastores...
Quem somos nós agora afinal? Que fazemos? ... O que é para nós a Serra da Estrela?
J. P. da Serra 1988
"Quim"